ARTRITE REUMATÓIDE
A Artrite Reumatóide é uma doença inflamatória crônica que apresenta
sinovite, envolvendo as articulações, principalmente as periféricas de mãos e
punhos de forma simétrica levando a deformidades e incapacidade funcional.
Apresenta distribuição mundial e é relativamente freqüente, acomete 1% da
população adulta, sendo as mulheres mais acometidas do que os homens, três para
um (CICONELLI, 2006; apud SATO).
Etiopatogenia:
A causa não está totalmente definida, por este motivo muitos estudos têm
ocorrido. Vários fatores tem se apresentado como genético, hospedeiro e
ambiente.
Respostas imunológicas, inflamação desencadeada por infecção,
poliformismo genético, auto-imunidade mediada por anti-corpos e células T,
desregulação na produção de citocinas pró-inflamatórias e antiinflamatórias e pannus que é a transformação da sinóvia
em tecido invasivo são fatores apontados como causadores principais.
A perda da função articular é resultado de danos irreversíveis da
cartilagem articular como conseqüência do processo inflamatório, além de danos
nos tecidos ao redor da articulação como tendões, cápsulas, ligamentos e osso
subcondral.
Pela incapacidade dos condrócitos em manter a integridade do tecido
devido a inflamação leva a destruição da cartilagem, além disto, enzimas
proteolíticas presentes no líquido sinovial agem na matriz da cartilagem
acelerando a destruição do tecido (SATO, 2006)
Critérios de Classificação segundo o
American College of Rheumatology:
O paciente necessita preencher ao menos quatro dos sete critérios para
fechar o diagnóstico, sendo que os critérios de 1 a 4 devem estar presentes por
6 semanas:
1) Rigidez matinal: Região articular ou periarticular
com duração de 1 hora.
2) Artrite de
três ou mais articulações: de forma simultânea, com aumento de volume de partes
moles e de líquido (não somente proliferação óssea)
3) Artrite de articulações das mãos (punho,
interfalangeanas proximais e metacarpofalangeanas)
4) Artrite simétrica; da mesma articulação em ambos os
lados do corpo.
5) Nódulos reumatóides; subcutâneos sobre proeminências
ósseas.
6) Fator reumatóide sérico; quantidade anormal de fator reumatóide
sérico.
7) Alterações radiográficas: erosões ou descalcificações
localizadas em radiografias de mãos e punhos.
Pacientes com dois ou três critérios não são excluídos da possibilidade
do desenvolvimento da doença futuramente e devem ser acompanhados com frequência.
Ressalta-se que o médico avalie a atividade da doença periodicamente
verificando o número de articulações dolorosas, o número de articulações
edemaciadas, a intensidade da dor, avaliação da mobilidade articular, da
capacidade funcional e exame radiográfico para constatar ou não a progressão da
doença.
Quadro Clínico:
Embora a AR se manifeste mais evidentemente nas articulações, deve-se
lembrar que é uma doença sistêmica com comprometimentos extra-articulares.
Nas manifestações articulares, há sinais e sintomas reversíveis ligados
ao processo inflamatório e os irreversíveis ligados a sinovite.
A coluna dorsal e lombar são raramente acometidas, porem a cervical é
frequentemente envolvida, principalmente as articulações C1 e C2.
Deformidades nas articulações periféricas surgem com a evolução da
doença, citamos os dedos em pescoço de cisne, em botoeira, desvio ulnar e hálux
valgo.
Nódulos subcutâneos aparecem em 30% dos pacientes, o envolvimento
sistêmico dos órgãos são evidentes em 10 a 20% dos acometidos.
A Pleurite é um achado comum com evolução favorável.
A ceratoconjuntivite é o achado ocular mais comum, tendo a esclerite
como evolução mais grave.
Devido a sangramento no trato gastrointestinal não é raro a anemia, além
de proteinúria pelo comprometimento renal.
As manifestações neurológicas estão associadas a compressão medular
devido a instabilidade cervical levando a neuropatias periféricas como a
síndrome do túnel do carpo.
Tratamento:
O início imediato do tratamento após o diagnóstico precoce são
fundamentais para o controle da doença e para prevenir incapacidade funcional e
lesão irreversível
Os objetivos do tratamento são:
·
Prevenir ou
controlar a lesão articular,
·
Prevenir a perda
de função,
·
Diminuir a dor,
·
Maximizar a
qualidade de vida do paciente.
A educação do paciente e de seus familiares, deve ser a abordagem
terapêutica inicial, orientando a respeito da doença, as possibilidades de
tratamento, riscos e benefícios.
O tratamento deve ser constantemente reavaliado. As decisões quanto ao planejamento
da terapia, devem ser em conjunto com o paciente.
O acompanhamento multidisciplinar é importante para o sucesso do
tratamento, sugerimos apoio médico, psicológico, nutricional e fisioterapêutico.
Tratamento Fisioterapeutico:
Por motivo do potencial incapacitante desta doença, é necessário o
acompanhamento destes pacientes desde o início, com orientação sobre proteção
articular, manutenção da função do aparelho locomotor e do
sistema cardiorrespiratório.
Deve-se otimizar o fortalecimento da musculatura periarticular e adequar
um programa de flexibilidade, evitando o excesso e fazendo uso de cargas
moderadas além de enfatizar a proteção articular e o uso de talas.
Devem fazer parte do condicionamento físico:
·
Atividade
aeróbica,
·
Exercícios resistidos,
·
Alongamento,
·
Relaxamento,
·
Sempre observar a
tolerância e a fadiga.
A restrição dos movimentos utilizando órteses tem como objetivo aliviar
as dores mioarticulares devido a estabilização e realinhamento da articulação.
Sabendo-se que a degeneração articular é maior quando o repouso é prolongado,
a estratégia terapêutica deverá intercalar períodos alternados de atividades e
repouso.
Tratamento medicamentoso:
Variar com o estágio da doença, sua atividade e gravidade.
Sintomáticos
·
Antiinflamatórios
não hormonais,
·
Analgésicos
comuns, como o paracetamol,
·
Drogas
modificadoras do curso da doença (cloroquina / hidroxicloroquina, sulfasalazina,
metotrexato), preferencialmente em até três meses após o início da doença.
·
Doses baixas de glicocorticóides,
prednisona,
·
Suplementação de
cálcio,
·
Vitamina D,
·
Uso de opióides
pode se fazer necessário em alguns pacientes,
·
Infiltrações com
glicocorticóides nos casos oligoartrites persistentes.
Em caso de indicação de tratamento cirúrgico, deve ser feito precocemente.
Não aguardar o comprometimento de várias articulações. Testar o nível da qualidade
de vida do paciente é recomendável para a indicação cirúrgica.
·
Sinovectomia
para sinovite resistente ao tratamento conservador por mais de seis meses,
·
Correção de
tendões e sinovectomia;
·
Debridamento
articular e ressecção artroplástica;
·
Artrodese;
·
Artroplastias
totais: joelho e quadril.
Referências:
SATO, Emilia
Inque, Guia de Reumatologia – Guia de Medicina ambulatorial e hospitalar; Ed. Manole, Barueri,
2006.
American College of Rheumatology/ Subcommittee on Rheumatoid
Arthritis Guidelines. Guidelines for the management of rheumatoid
arthritis. Arthritis Rheum 2002; 46:328-46.